Rituais e Feitiços Wicca - Guia para Iniciantes

Conheça os fundamentos, princípios orientadores da magia Wicca e os seus principais rituais e feitiços.

A Wicca é uma religião recente (formulada em meados do século XX), com uma filosofia espiritual, códigos de ética, conceitos, rituais e divindades próprias. É uma religião moderna, baseada nas antigas tradições da bruxaria. O autor britânico Gerald Gardner é considerado, pela maioria dos especialistas, como tendo sido o criador do termo wiccan e o grande impulsionador deste movimento. Neste artigo, vai ficar a conhecer os princípios orientadores da magia Wicca e os seus principais rituais e feitiços.

Os Rituais e Feitiços Wicca

As práticas mágicas Wicca estão ligadas às energias cósmicas. Tudo é energia e tudo se concretiza na vida e nas coisas terrenas. Num ciclo onde a energia negativa entra, os conceitos Wicca são corrompidos e as suas práticas rejeitadas pelos verdadeiros seguidores desta corrente.

No mundo natural, existem energias positivas e energias negativas. Os feitiços e rituais Wicca existem para afastar a negatividade e para proteger a pessoa de influências tóxicas trazidas até si por pessoas que se "alimentam" do seu espírito, da sua alma e da sua positividade, resultando em desequilíbrio, doença e noutras manifestações pessoais negativas.

Antes de iniciar um ritual ou feitiço ou ritual, os seguidores da Wicca estão obrigados a avaliar cuidadosamente todos os resultados potenciais dos seus pensamentos e ações, considerando seriamente eventuais consequências. 

A intuição, a ligação ao mundo natural, e a vontade de praticar o bem em nome de todos, junta-se à bondade do coração, pois apenas quando se vê a vida e o mundo através dos olhos, coração e do espírito é que se consegue realmente compreende o que é a Wicca.

A Ética na Magia Wicca

Como em muitas outras religiões, o sentido do bom e do mau, da luz e da sombra, também está presente nesta religião. Os feitiços e rituais Wicca seguem uma série de preceitos que pretendem garantir que os seus praticantes os fazem de modo ético e responsável.

Na religião Wicca, o dom do poder mágico é um presente da Senhora e do Senhor e, por isso, deve ser usado apenas para praticar o bem comum e nunca deve ser abusado. Cada ação realizada, mágica ou mundana, tem consequências e geram efeitos, não só na pessoa que lança o feitiço mas, também, nos outros. Nenhum ato é inconsequente. Na prática da magia Wicca, este fundamento orienta todos os rituais e feitiços dos seus praticantes.

Antes de um praticante se lançar na magia ou nos feitiços Wicca, deve estar perfeitamente consciente dos seus efeitos. Uma orientação geral é a pessoa perguntar-se a si mesma: "Se este feitiço me atingir a mim, posso viver com as suas inevitáveis consequências? Há alguma coisa negativa, para mim e para os outros, que pode decorrer do que estou prestes a fazer?".

Todas as ações de magia Wicca seguem um código de ética baseado no princípio fundamental desta religião: não fazer mal a nada nem a ninguém. Para além disso, os praticantes desta religião acreditam que tudo o que fazem lhes será devolvido em triplicado nesta vida ou na próxima. Trata-se da Lei Tríplice ou a ou a Lei dos Três. Para além destas regras fundamentais, acresce a noção de responsabilidade individual. Cada pessoa é a única responsável pelas suas ações e, por isso, deve estar preparada para aceitar as consequências e lidar com isso.

Culto Wiccan à Deusa e ao seu Consorte, o Deus

O culto Wiccan segue duas divindades naturais: a Deusa e o seu consorte, o Deus. Figuras ancestrais, estão ligadas ao culto da natureza e das forças do mundo natural e expressam-se através de todo o mundo natural: nas árvores, na chuva, nas flores, no mar, umas nas outras, e em todas as criaturas da natureza. Daqui resulta a ideia de que "todas as coisas" da Terra devem ser tratadas, igualmente, como manifestações do divino. A vida deve ser honrada e respeitada em todas as suas muitas manifestações, tanto visíveis como invisíveis.

A Deusa

Os principais arquétipos da Deusa dos Wiccanos são dois, um deles é como a “Mãe Terra”, ou a “Deusa Mãe”. Ela é a primeira em toda a Terra, o mistério, a mãe que alimenta e que dá toda vida. Ela é o poder da fertilidade e geração; o útero e também a sepultura que recebe, o poder da morte. Tudo vem dela, tudo deve retornar para Ela.

O segundo arquétipo associa a Deusa à “Lua" que, por sua vez, está associada aos ciclos mensais de sangramento e fertilidade das mulheres. A mulher é lua terrena; a lua é o ovo celestial, vagando no útero do céu, cujo sangue menstrual é a chuva que fertiliza e o orvalho que refresca; aquela que governa as marés dos oceanos, o primeiro ventre da vida na Terra. Portanto, a lua é também a "Senhora das Águas".

O Deus

O consorte da Deusa, o Deus, representado sob dois arquétipos. O primeiro é como “O Cornífero”, o deus das matas, que representa a natureza indomável de tudo que é livre. É geralmente identificado com o deus grego Pã, sendo representado como o caçador-coletor das sociedades pré-agrícolas.

Nas sociedades pré-históricas, os homens saíam para caçar e para colher frutos e bagas. Mas a morte dos animais associava-se à necessidade do Homem de se alimentar. Era uma questão de sobrevivência, de recolher e caçar o que estava à sua disposição na natureza para obter energia para viver. Estas sociedades agradeciam os bens que recolhiam da vida natural com rituais, respeitando o espírito das presas.

Através de rituais mágicos, devolviam a energia vital à natureza. O seu segundo arquétipo é o do “Senhor da Colheita”, “O Sacrificado” ligado à celebração dos ciclos da natureza. Ele tanto é o sol brilhante, a força energizante e fornecedora de luz, como a escuridão da noite e da morte.

Cada Deusa, cada Deus, é uma maneira de conhecer e experimentar o ciclo do nascimento, crescimento, morte e renascimento. O Deus e a Deusa dos Wiccanos possuem muitos nomes. Qualquer um dos seus nomes ou aspetos podem ser utilizados como um foco para a meditação.

O Ritual de Iniciação Wicca

A iniciação é o mais importante ritual de passagem na religião Wicca. Trata-se do ritual no qual a pessoa é apresentada aos Deuses. Representa o momento em que, de facto, se torna um Wicca.

Antes da iniciação, a pessoa passa por um período designado como "dedicação". Durante esse tempo, o bruxo aprendiz tem a responsabilidade de estudar a religião Wicca. Quando a pessoa sente sinceramente, no coração, que a Wicca é o seu caminho, considera-se que está preparada para o ritual de iniciação.

Contudo, tradicionalmente o tempo de "dedicação" é contado em um ano e um dia. Isto é, para o aprendiz estar convicto da sua escolha, precisa, no mínimo, de dar uma volta completa na roda do ano.

O conselho wiccaniano é considerado o principal dogma da Wicca. É um código moral simples e benevolente. Possui algumas variações de como é dito, mas o sentido é o mesmo. Algumas formas são: “faz o que quiseres, se a ninguém prejudicar”, “sem prejudicar ninguém, realiza a tua vontade”, “faz o que quiseres desde que não prejudiques nada nem ninguém”, “faz o que desejares, se mal nenhum causar”. A Lei Tríplice complementa o conselho wiccaniano. Não prejudiques ninguém, pois “tudo o que fizeres ser-te-á devolvido em triplo nesta vida ou na próxima”.

Rituais e Feitiços Wicca - A Celebração dos Ciclos da Natureza

Para além do ritual de iniciação, a religião Wicca observa outros rituais. Vamos falar daqueles que são considerados a prática comum para um seguidor desta religião. Os Wiccanianos reverenciam o dom da natureza da criação divina, celebrando os ciclos do sol, da lua e das estações do ano. A Celebração dos Ciclos da Natureza dá o mote a 21 rituais celebrados todos os anos. Intimamente ligada à natureza e ao respeito por todos os seres e coisas. Estes rituais consistem em 8 Sabbaths, que compõem a denominada Roda do Ano, e 13 Esbaths, ou rituais da Lua Cheia.

O Mito da Roda do Ano

Apaixonado, o Deus Cornífero, mudando de forma e de rosto, procura sempre a Deusa. Neste mundo, a procura e a busca surgem na Roda do Ano. Ela é a Grande Mãe que dá a luz, ele como a divina Criança do Sol, no solstício de inverno. Na primavera, ele é semeador e semente que germina com a luz crescente, verde como os novos brotos. Ela é a iniciadora que lhe ensina os mistérios. Ele é o jovem touro; ela, a ninfa sedutora.

No verão, quando a luz é mais duradoura, unem-se, e a força da sua paixão sustenta o mundo. Mas, a face do Deus escurece à medida que o sol enfraquece, até que, finalmente, quando o grão é colhido, ele também se sacrifica ao self a fim de que todos possam ser nutridos.

Ela é ceifeira, o túmulo da terra ao qual todos devem retornar, durante as longas noites e dias que escurecem, ele dorme no seu ventre; nos seus sonhos, ele é o Senhor da Morte que rege a Terra da Juventude, além dos portais da noite e do dia. A sua sepultura escura torna-se no útero do renascimento, pois, a meio do inverno Ela dá, novamente, à luz, ele. O ciclo termina e começa outra vez, e a Roda do Ano gira, ininterruptamente (STARHAWK, 2010, p.72).

Os 8 Sabbaths - A Roda do Ano

Os Sabbaths são os festivais que celebram o mito da Roda do Ano. Quatro Sabbaths, correspondem aos equinócios e aos solstícios e marcam a trajetória do sol pelo céu. Os outros quatro, celebram o ciclo da sementeira, do plantio e da colheita e ocorrem em datas fixas e definidas em meses intermediários aos primeiros. Como o calendário sazonal do hemisfério norte é oposto ao do hemisfério sul, as comemorações são adaptadas à estação do ano de cada um dos locais.

SabbathsHemisfério SulHemisfério Norte
SamhainA 1 de maioA 31 de outubro
YulePor volta de 21 de junhoPor volta de 21 de dezembro
ImboleA 1 de agostoA 2 de fevereiro
OstaraPor volta de 22 de setembroPor volta de 21 de março
BeltaneA 31 de outubroA 1 de maio
LithaPor volta de 21 de dezembroPor volta de 21 de junho
LammasA 2 de fevereiroA 1 de agosto
MabonPor volta de 21 de marçoPor volta de 22 de setembro

Os 13 Esbaths - Os Rituais da Lua Cheia

Os Esbaths celebram o aspeto lunar da Deusa e são 13, porque, no ano, existem treze Luas Cheias. No nosso calendário solar, com 12 meses, ocorrem duas Luas Cheias a cada mês. Mas, no calendário lunar, que foi o primeiro a ser utilizado pelos povos primitivos, isso não acontece, pois é dividido de acordo com o ciclo da lua, com 13 meses de 28 dias cada. A temática dos Esbaths, ao contrário dos Sabbaths, pode variar de acordo com a pessoa que os realiza.

Os seguidores Wicca também reverenciam os espíritos dos elementos Terra, Ar, Fogo e Água, que, em conjunto, manifestam todas as formas de criação. A partir destes quatro elementos primordiais, entendem os ritmos da natureza e integram-nos no ritmo das suas próprias vidas.

A Prática da Magia Natural

Para a Wicca, os poderes mágicos estão latentes em todas as pessoas. Cada um de nós tem o potencial para se tornar numa bruxa (entendida nesta religião com alguém que procura fazer apenas o bem para todos, que respeita as leis da natureza e que vive em comunhão com ela, e que pratica uma vida segundo os valores mais puros).

Os poderes mágicos são poderes naturais e misteriosos que habitam a mente interior. O que a bruxaria faz é criar um ambiente favorável à manifestação desses poderes através de rituais mágicos e dos símbolos que os acompanham. Tudo isto exige, sobretudo, responsabilidade. A Wicca acredita que os poderes mágicos devem ser usados, exclusivamente, para praticar o bem, a bem de todos.

A magia é “a arte de transformar a consciência pela vontade”. Cada pessoa cria a sua própria realidade através das suas ações e pensamentos. Os feitiços só funcionam se a pessoa acreditar na sua capacidade de fazer as coisas e de fazer com que elas aconteçam. Honestidade, autodisciplina, dedicação e convição, são os ingredientes mágicos da Wicca. “Um feitiço é um ato simbólico realizado num estado alterado de consciência, com o objetivo de gerar a mudança desejada. Fazer um feitiço é projetar energia através de um símbolo” (STARHAWK, 2010, p.191).

Quem Pode ser um Wiccano?

Na verdade, qualquer pessoa se pode iniciar nesta religião se sentir, no seu coração, que esse é o seu caminho. Os Wiccanos denominam esse como o momento do “despertar para o chamamento da Deusa”. Os seguidores desta religião são tolerantes com todas as outras, desde que estas não perseguiam outras pessoas ou violem o princípio de "Não fazer mal a nada nem a ninguém".

Cada pessoa é livre para encontrar o seu caminho e os seus guias espirituais segundo a religião com que melhor se identifica. Isso faz da Wicca uma religião livre de preconceitos e aberta à diversidade. Também acredita que, “uma vez bruxa, para sempre bruxa”. Crentes na reencarnação se, em vidas passadas ou no presente, uma pessoa se tornou ou se tornar bruxa, assim o será para sempre.