O que são os Orixás na Umbanda e no Candomblé?

O que são os Orixás e qual é o seu papel nas religiões afro-brasileiras? Conheça o que caracteriza os Orixás, e o que carateriza a Umbanda e o Candomblé.

Orixás, Umbanda e Candomblé. Se tem interesse pelas práticas religiosas ancestrais e que refletem a cultura e as tradições dos povos antigos, é muito provável que já se tenha deparados com os Orixás ou com expressões espirituais ligadas a Umbanda e ao Candomblé. Mas, afinal, o que são os Orixás e qual o seu papel nestas religiões afro-brasileiras?

Na mitologia africana, os Orixás são, em geral, divindades que ordenam o mundo e estão presentes nas forças da Natureza. Estas divindades foram os primeiros seres a habitar a Terra, e dividem-se em duas qualidades: os Orixás Funfuns (Branco) e os Orixás de Predominância sendo que, no total existem 401 Orixás.

Estas figuras mitológicas foram inspiradas em mulheres e homens reais. São deusas e deuses que refletem a diversidade do carácter humano, mas com capacidades verdadeiramente extraordinárias. Com o poder da cura e da proteção, intervinham nas forças energéticas da Natureza, através do uso medicinal das ervas ou do fabrico de ferramentas, que colocavam ao serviço de quem lhes prestava culto e homenagem.

Orixás Funfuns e Orixás de Predominância

Os Orixás Funfuns são os seres que criaram o Universo e, por inerência, a Terra. Entre eles, encontram-se Olorum, Aorum, Oorum, Pavenã, Aganju, Olodumarê, Afefé, Oloxum, Odudua, Tempo, Ifá ou Obatalá.

Já os Orixás de Predominância descendem dos anteriores. A sua função foi povoar a Terra. Durante a sua estadia, tiveram inúmeras aventuras devido à sua capacidade de moldar os elementos da Natureza. Depois da sua passagem pelo mundo terreno, recolheram-se em Orum (o "céu" ou "mundo espiritual") e a sua função passou a ser a de ajudar a Humanidade na sua procura pela evolução espiritual.

Orixás, Umbanda e Candomblé

A Umbanda e o Candomblé são as duas principais religiões afro-brasileiras. Apesar de terem surgido no Brasil, os seus pressupostos baseiam-se nas crenças e nas divindades (os Orixás) do povo africano.

Durante o período colonial português no Brasil, a população europeia serviu-se da mão de obra trazida de África para manter as suas fazendas e colónias. Com os povos africanos, vieram as suas tradições culturais, nomeadamente, as práticas religiosas.

Num pais maioritariamente católico, os escravos africanos estavam proibidos de praticar as suas crenças e rituais. De modo a darem continuidade à sua fé, equipararam cada um dos Orixás aos Santos Católicos, associação designada como Sincretismo. Desta forma, o culto destas divindades perpetuou-se no tempo tendo, ainda hoje, inúmeros seguidores.

Ao contrário das grandes religiões monoteístas, a Umbanda e o Candomblé não possuem um registo escrito, ou seja, um livro sagrado como a Bíblia ou o Corão, que guie os crentes na sua prática religiosa diária. Os seus conceitos e práticas baseiam-se na prática, nos rituais e na transmissão oral dos fundamentos de ambas as religiões entre as gerações. No caso do Candomblé, a aprendizagem dos preceitos religiosos são trespassados através da prática diária da religião no terreiro (local onde são realizados os rituais quer da Umbanda quer do Candomblé).

O que são os Orixás do Candomblé

O Candomblé é uma religião mais antiga do que o Umbanda e muito mais próxima dos rituais africanos. Calcula-se que surgiu na Bahia e que, a partir dessa região, se espalhou para as terras do nordeste. Os rituais do Candomblé são muito semelhantes com os rituais originais africanos, usando batuques, danças e oferendas. O Candomblé tem, pelo menos, quatro denominações diferentes consoante o povo a que lhe deu origem:

  • Ketu, de tradição yorubá, dos povos nagô da África Ocidental
  • Jeje, de tradição fon, dos povos jeje da África Ocidental e Central
  • Bantu, de tradição bacongo, dos povos angolanos, da Costa Ocidental Africana
  • Caboclo, junção das entidades africanas e dos espíritos cultuados pelos povos indígenas que habitavam o atual território brasileiro

Nos rituais do Candomblé, são realizadas oferendas (geralmente comidas típicas) para agraciar os Orixás, acompanhadas de batuques e de danças. As batucadas, os cantos e a expressão linguística variam segundo a origem do povo que pratica no terreiro.

No Candomblé, não é comum a prática de incorporação ou da mediunidade. Os rituais executados nos terreiros são uma celebração com comida, música e dança para atrair os espíritos ancestrais e os Orixás. Os praticantes entram numa espécie de transe e dançam segundo os seus Orixás de Cabeça (ou seja, o Orixá que guia a sua vida ou com o qual mais se identifica e venera).

O sacerdócio nos terreiros do Candomblé é exercido pelo Babalorixá (homem) ou pela Yalorixá (mulher). Ao contrário da Umbanda, não são utilizadas drogas, como tabaco e álcool, durante as práticas rituais. Os seguidores do Candomblé acreditam na imortalidade da alma e na reencarnação.

O que são os Orixás na Umbanda

Zélio Fernandino de Moraes foi o fundador da Umbanda, em 1908. "Umbanda" significa "arte da cura" e sincretiza as divindades dos cultos africanos com elementos das religiões indígenas, do catolicismo e do espiritismo kardecista.

Reza a lenda que a família de Zélio de Moraes, após este apresentar um comportamento estranho, o levou a um centro espírita, onde foi detetada a incorporação de um espírito que se autodenominava o Caboclo das Sete Encruzilhadas. A partir desta experiência, o espírito começou a dar instruções sobre o que deveria ser feito, dando início à prática da Umbanda.

A Umbanda acredita na existência de um deus soberano, denominado Olorum (equivalente a Olódùmarè) e presta culto aos Orixás. Acredita na imortalidade da alma, na reencarnação e no karma, além de cultuar entidades, espíritos experientes que guiam as pessoas.

O culto aos Orixás é feito de forma diferente do praticado no Candomblé. Na Umbanda, os Orixás são tidos como uma energia natural que é transmitida aos crentes através de entidades conhecidas como espíritos guias. Um dos principais princípios cristãos que inspiram a Umbanda, herdado do catolicismo e do espiritismo kardecista, é a caridade. Na Umbanda, só quem pratica a verdadeira caridade consegue evoluir espiritualmente.

Nos rituais, são usados batuques e cânticos sagrados em português. os médiuns incarnam as entidades sagradas, que têm o poder de curar, aconselhar, avaliar e modificar a vida das pessoas. O sacerdócio em terreiros de Umbanda é exercido pelo Pai de Santo (homem) ou pela Mãe de Santo (mulher).

Na Umbanda, são cultuados 12 divindades: 9 Orixás - Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Nana e Omulu e 3 outros espíritos: o Preto Velho, o Caboclo e a Pombagira, divindades que não aparecem no Candomblé.

Nos rituais praticados na Umbanda não há um trabalho direto com os Orixás. Este é realizado através das entidades, espíritos classificados de acordo com suas características, nomeadamente:

  • Exus e Pombagiras: mensageiros dos Orixás (Exu é o masculino, e Pombagira, o feminino)
  • Caboclos: espíritos de índios, tanto guerreiros como curandeiros (pajés)
  • Preto-velho e Preta-velha: espíritos de escravos e escravas brasileiros, velhos e sábios
  • Erês (crianças): espíritos de crianças, puros e alegres, mas também dotados de alguma sabedoria
  • Baianos, Marinheiros, Malandros e Boiadeiros: entidades que constituem as chamadas linhas auxiliares ou linhas regionais, segundo a localidade em que o terreiro da Umbanda está situado